quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Saudade / Vontade


O meu corpo e minha mente não ficam em paz com a sua ausencia. Os olhos se consolam com a distância, brilham e entregam o pensamento.

A saudade não é um sentimento. Ela não existe. Sentir saudade é na verdade o não sentir outras coisas. Não ver. Não ouvir. Não falar. Não rir junto. Não compartilhar. Não saber o que aconteceu na última semana. Saudade é espaço em branco, é cavidade cardíaca não preenchida, é bexiga sem ar. Saudade é vontade não atendida.

Onde vou . . .

Levei muitos anos para chegar a este ponto. Aprendi quando pequena que havia algo que eu deveria fazer, e se eu não fizesse, Deus não ficaria satisfeito comigo. Quando entendi concretamente que minha meta principal era sentir e vivenciar alegria; ter a paz por perto e a alma limpa; a meta era sorrir, olhar pela janela desejando borboletas coloridas;a meta era sentir entrar pelos poros toda melodia e poesia;comecei a entender onde me levam os meus passos.
O meu corpo e minha mente não ficam em paz com a sua ausencia.

Olhando para o céu eu sinto . . .

Mania de olhar para o céu e procurar sentidos;
Procurar nas estrelas um brilho que me faça sentir;
Sentir qualquer arrepio que venha das cores;
Das cores do seu olhar;
Aquele olhar que intacta qualquer retina nua;
E vem a vontade a insaciável ;
Vontade de sentir sua pele;
De ter a língua minha nas tintas tuas;
De gritar arranhando azulejos ao gosto de água e sal;

domingo, 9 de agosto de 2009

Se você estivesse aqui...

Ahhh... Se você estivesse aqui bem pertinho, como quando sentava no sofá e me esperava chegar.
Quando me chamava de Fifa e Tatibitati com um sorriso cheio ou vazio.
Se pudesse te abraçar de novo e te desejar como nunca desejei um "Feliz dia" para aqueles que sempre foram seus.
Se eu pudesse te ver entrando por aquela porta e te entregasse um lindo presente com fitas coloridas só para você pedir que eu abrisse porque nao leva muito jeito.
Se eu pudesse ouvir sua voz rouca dizendo que me ama e mandando eu me cuidar.
Se eu pudesse preparar novamente aquela vitamina de todos os dias, sem gosto, mas preparasse com carinho aquilo que podia te alimentar.
Se eu pudesse te sentir presente mesmo com quilometros de distância.
E se você estivesse aqui, desejaria noites intermináveis vendo qualquer filme barulhento com suas mãos em meus cabelos, mesmo detestando que meus cachos fiquem embolados.
Se você pudesse estar aqui, desejaria o sol, a praia, suas piadas sem graça, desejaria sua mão gordinha segurando a minha em qualquer calçadão.
Se eu pudesse, desejaria ainda te ver sempre com polo listrada contando das mais variadas histórias.
Se você estivesse aqui, hoje eu iria comer peixe frito só para te agradar.
Se você estivesse aqui, bem aqui do meu lado, eu ia pedir camarão e brocolis, mesmo sabendo que sempre fica sem sal.

E só quando eu vi que aqui você não poderia estar, foi quando eu me dei conta de tudo que eu podia ser e não fui.
Foi quando eu dei valor ao abraço, ao amor, a ausência, ao carinho, a família.
Foi quando eu senti saudade e doeu.
Foi quando eu desejei pular folhas do calendário. Foi quando eu desejei dormir no sábado e acordar segunda.
E só assim eu percebi a importância de dizer " eu te amo ".
Hoje, guardo na lembrança e na garganta todo o meu afeto retido.
 
E nesse dia eu desejo luz, paz e qualquer jardim bonito.
Desejo que sinta todo o meu amor.
Desejo que esteja em harmonia e em constante evolução.
Desejo as flores que não pude dar, o beijo que não chegou a tempo.
Desejo que me espere, pois o abraço perdido ainda há de se encontrar.

sábado, 25 de julho de 2009

Tirando a poeira

Tanto tempo que não passo por aqui que pensei "tenho que escrever algo relativamente interessante!". Pensei em algo que emocione, ainda que apenas dentro de mim e me encha de poesia e cor.
E o que seria interessante? Sabe, ando com a cabeça em tantos lugares bonitos que esqueci de lembrar que é preciso, às vezes, vomitar. Sim, vomitar tudo aquilo que tem no poço da gente. É lá que está o nosso texto e a parte mais difícil é a hora do dedo na garganta, o exato momento que você e seus escritos internos estão prontos e se encontram em grande estilo.
Ando bebendo de menos e esse "mal-estar" não tem acontecido com tanta frequência. Porém, hoje, senti uma vontade quase que incontrolável de gritar o meu sorriso, dizer que é com prazer que enfeito o meu jardim.
Acordo-dia, durmo-noite, insonias e lembro; lembro que é preciso levantar e olhar para o sol, ainda de braços para o ar agradecer pelas pétalas que não consigo ver, mas sei que estão ali e bem-me-quer. E não consigo porque dizem que quando grande é o sentimento, por mais que tentemos antes do sono chegar, lembrar, não é fácil vizualizar o físico, os detalhes, deixando a imagem vaga, embaçada e as pétalas simplesmente somem. Mas ainda sem te-las em minha mente, abro as janelas e permito que elas cresçam.
As borboletas sobrevoam meus cachos. Eu juro, eu vejo-as. Tem azúis, cor-de-rosa, estampadas com bolinhas coloridas, e me acompanham dançando e fazendo bagunça na cuca-da-nega. Vezenquando fazem festa no meu estômago e deixam a sensação de frio-na-barriga que adoro. As mais atrevidas saem pela boca, evitando o silêncio e repousam sobre a margarida que com carinho plantei.
Meus pés não tem se comportado como ensinei, eles saem do chão com freqüência e em uma velocidade até que agradável, permitindo que meus dedos toquem nas nuvens-de-algodão-super-doce. E sonho.
O sangue corre depressa e quente, a retina intacta com a doçura e simplicidade do jardim, a pupila se mantem vibrante e inquieta. Pulsa. Pulsa esse bolo de carne. Pulsa rápido, que por instantes penso que sairá junto com as borboletas para algum lugar bonito. Pulsa aqui dentro e me sinto viva.
Respiro, suspiro, respiro...
" E se não fosse a beleza da flor, como seria? "

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Mãe...

A mãe se torna mãe pelo prazer, abriga com amor um ser desconhecido que precisa dela e somente dela para sobreviver. Se torna mãe na dor do parto, se torna mãe nos primeiros resfriados e tombos; onde certamente queria arrancar todas as aflições dessa criança e trazer para ela. Se torna mãe quando nasce o sentimento de matar e morrer por um ser desconhecido.

E quando ela se torna mãe, temos ai um Elo. Um Elo de força, de ligação, de coragem, de amor, de amizade, de respeito, de companheirismo, de complexidade, de harmonia. Um elo com bastante intensidade, uma explosão de sentimentos que por vezes acabam se perdendo.

Com o olhar nos sentimos, com o toque nos amamos, com a palavra nos limitamos, com o silêncio nos respeitamos, e com as mãos nos apoiamos sempre.

Para sempre o centro do meu espelho, a mulher da minha vida, o sentido dessa, de outras que passaram e das que estão por vir, o motivo do sorriso e da essência que resume toda essa existência.

A casa.

Entre. Habite. Invade.
Nova. Móveis antigos. Estrutura inacabada. Rachaduras. Não há pintura. Existe um lugar vazio que você pode morar. Vem morar. Vem fazer o seu lugar. Pode chorar. Pode sorrir. Pode pintar e bordar. É sua. É só sua. Traz as suas coisas. Traz a sua história. Decora. Completa. Faz dela mais bonita. Deixe com a sua cara. Molde. Sinta. Coloque o cheiro que você quiser. Harmonize com flores. Sirva. Limpe. Mas é sua. Como quiser. Ame cada comodo. Cada canto. Cada lugar. Se não quiser as paredes; quebre. Se não precisar das portas; derrube. Se houver janelas demais; abra. Mas faça. Sinta bem. Faça bem. Queira bem. É a sua casa. More por um tempo. More para sempre. Mas more. Do jeito que quiser; more. Não empresta. Esqueça das visitas. Existem outros lugares bonitos para recebe-las. Ela é sua. Só sua. Se acostumou com o seu pisar. Deixe tranquila. Deixe calma. Deixe correr o vento. Deixe entrar as borboletas. Mas esteja presente para sentir o bem que traz. Saia. Dê uma volta. Volte depressa. Ela não gosta de ficar sozinha e vazia. Existem vozes que a deixam com medo. Volte. Se preferir não saia. Sinta vontade. Rabisque. Brinque. Bagunce. Mas arrume. Você gosta. Pense. Leia um livro. Adquira conhecimento dentro dela. Passe o que sabe para ela. Converse sozinha. Com ela. Mas fale. Pense. Sinta. More.

Com pontos. Com pausa. Porque as minhas frases respiram como a casa; lentamente.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Tempo

Quanto tempo mais a pensar, a sentir, a querer? Quanto tempo mais de saudade, de vontade e todas as suas combinações? Quanto tempo mais eu tenho de sorrisos, de olhares, de pele, de cheiro?
Tempo? Na presença ele corre depressa e na ausência é tão lento que parece não existir.
Tempo? Um nome mais bonito que deram para os " prazos ", " contratos "; um sentido ou desespero para o " estar perto " ou o " estar longe ".
Tempo que parece não ter coêrencia, razão ou sentido quando fico estagnada, sem fluidez; quando me locomovo sem sair do lugar, quando fixo o olhar para a doçura e sensibilidade.
Tempo que esqueço quando adormece ou quando acorda com a mesma cor e vibração de quem nasce ou morre. Tempo que mexe levemente com a paciência quando acontece a partida.
Quanto tempo mais? Quanto tempo tenho? Tempo?
É tempo de esquecer do tempo, das horas, suas divagações e variações. É tempo de sentir e apenas sentir. Sentir o coração disparar a cada suspiro, a cada gota de sentimento que os olhos expressam ao ouvir a voz meiga e quente. É tempo de viver!!! Viver por viver, por gostar de viver e de nada saber. Viver sem medo e ser feliz só para contrariar.

Afogando

Que leva, que vai e que fica.
Mora na vida e no absurdo.
Precisa de arte.
Precisa que invada.
Que o coração dispare,
Que a saudade mate.
Não a prenda!
Ela é dela!
Tranque-a e ela morre.
Sopre-a no vento que ela vai [...]
Mas espere, pois ela volta.
Precisa viajar.
Precisa de mudanças.
É do carinho.
Amante dos filmes e dos sorrisos,
da música e do ritmo.
Muda de idéia.
Se contradiz.
É do calor.
Obedece suas vontades.
Não suporta o "mais ou menos".
Detesta o "quase".
E a "metade" mexe com sua paciência.
Precisa de livros.
Precisa de gente.
Se afoga no silêncio se preciso.
Vive se afogando.
Se afoga no sono.
Noutras se afoga no trabalho.
Raramente nos estudos.
E ainda não nas bebidas.
Não se afoga nos melhores mares.
Anda perdendo o fôlego.
Mas de mergulho em mergulho [...]
[...] está aprendendo a nadar.

Adriana Calcanhoto

Eu ando pelo mundo prestando atenção
[...]

eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
e como uma segunda pele, um calo, uma casca,
uma cápsula protetora
eu quero chegar antes
pra sinalizar o estar de cada coisa
filtrar seus graus
eu ando pelo mundo divertindo gente
chorando ao telefone
e vendo doer a fome nos meninos que têm fome

[...]

Eu ando pelo mundo
e os automóveis correm para que?
as crianças correm para onde?
transito entre dois lados de um lado
eu gosto de opostos
exponho o meu modo, me mostro


Seja eu,
Seja eu,
Deixa que eu seja eu.
E aceita
O que seja seu.