segunda-feira, 22 de junho de 2009

Mãe...

A mãe se torna mãe pelo prazer, abriga com amor um ser desconhecido que precisa dela e somente dela para sobreviver. Se torna mãe na dor do parto, se torna mãe nos primeiros resfriados e tombos; onde certamente queria arrancar todas as aflições dessa criança e trazer para ela. Se torna mãe quando nasce o sentimento de matar e morrer por um ser desconhecido.

E quando ela se torna mãe, temos ai um Elo. Um Elo de força, de ligação, de coragem, de amor, de amizade, de respeito, de companheirismo, de complexidade, de harmonia. Um elo com bastante intensidade, uma explosão de sentimentos que por vezes acabam se perdendo.

Com o olhar nos sentimos, com o toque nos amamos, com a palavra nos limitamos, com o silêncio nos respeitamos, e com as mãos nos apoiamos sempre.

Para sempre o centro do meu espelho, a mulher da minha vida, o sentido dessa, de outras que passaram e das que estão por vir, o motivo do sorriso e da essência que resume toda essa existência.

A casa.

Entre. Habite. Invade.
Nova. Móveis antigos. Estrutura inacabada. Rachaduras. Não há pintura. Existe um lugar vazio que você pode morar. Vem morar. Vem fazer o seu lugar. Pode chorar. Pode sorrir. Pode pintar e bordar. É sua. É só sua. Traz as suas coisas. Traz a sua história. Decora. Completa. Faz dela mais bonita. Deixe com a sua cara. Molde. Sinta. Coloque o cheiro que você quiser. Harmonize com flores. Sirva. Limpe. Mas é sua. Como quiser. Ame cada comodo. Cada canto. Cada lugar. Se não quiser as paredes; quebre. Se não precisar das portas; derrube. Se houver janelas demais; abra. Mas faça. Sinta bem. Faça bem. Queira bem. É a sua casa. More por um tempo. More para sempre. Mas more. Do jeito que quiser; more. Não empresta. Esqueça das visitas. Existem outros lugares bonitos para recebe-las. Ela é sua. Só sua. Se acostumou com o seu pisar. Deixe tranquila. Deixe calma. Deixe correr o vento. Deixe entrar as borboletas. Mas esteja presente para sentir o bem que traz. Saia. Dê uma volta. Volte depressa. Ela não gosta de ficar sozinha e vazia. Existem vozes que a deixam com medo. Volte. Se preferir não saia. Sinta vontade. Rabisque. Brinque. Bagunce. Mas arrume. Você gosta. Pense. Leia um livro. Adquira conhecimento dentro dela. Passe o que sabe para ela. Converse sozinha. Com ela. Mas fale. Pense. Sinta. More.

Com pontos. Com pausa. Porque as minhas frases respiram como a casa; lentamente.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Tempo

Quanto tempo mais a pensar, a sentir, a querer? Quanto tempo mais de saudade, de vontade e todas as suas combinações? Quanto tempo mais eu tenho de sorrisos, de olhares, de pele, de cheiro?
Tempo? Na presença ele corre depressa e na ausência é tão lento que parece não existir.
Tempo? Um nome mais bonito que deram para os " prazos ", " contratos "; um sentido ou desespero para o " estar perto " ou o " estar longe ".
Tempo que parece não ter coêrencia, razão ou sentido quando fico estagnada, sem fluidez; quando me locomovo sem sair do lugar, quando fixo o olhar para a doçura e sensibilidade.
Tempo que esqueço quando adormece ou quando acorda com a mesma cor e vibração de quem nasce ou morre. Tempo que mexe levemente com a paciência quando acontece a partida.
Quanto tempo mais? Quanto tempo tenho? Tempo?
É tempo de esquecer do tempo, das horas, suas divagações e variações. É tempo de sentir e apenas sentir. Sentir o coração disparar a cada suspiro, a cada gota de sentimento que os olhos expressam ao ouvir a voz meiga e quente. É tempo de viver!!! Viver por viver, por gostar de viver e de nada saber. Viver sem medo e ser feliz só para contrariar.

Afogando

Que leva, que vai e que fica.
Mora na vida e no absurdo.
Precisa de arte.
Precisa que invada.
Que o coração dispare,
Que a saudade mate.
Não a prenda!
Ela é dela!
Tranque-a e ela morre.
Sopre-a no vento que ela vai [...]
Mas espere, pois ela volta.
Precisa viajar.
Precisa de mudanças.
É do carinho.
Amante dos filmes e dos sorrisos,
da música e do ritmo.
Muda de idéia.
Se contradiz.
É do calor.
Obedece suas vontades.
Não suporta o "mais ou menos".
Detesta o "quase".
E a "metade" mexe com sua paciência.
Precisa de livros.
Precisa de gente.
Se afoga no silêncio se preciso.
Vive se afogando.
Se afoga no sono.
Noutras se afoga no trabalho.
Raramente nos estudos.
E ainda não nas bebidas.
Não se afoga nos melhores mares.
Anda perdendo o fôlego.
Mas de mergulho em mergulho [...]
[...] está aprendendo a nadar.

Adriana Calcanhoto

Eu ando pelo mundo prestando atenção
[...]

eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
e como uma segunda pele, um calo, uma casca,
uma cápsula protetora
eu quero chegar antes
pra sinalizar o estar de cada coisa
filtrar seus graus
eu ando pelo mundo divertindo gente
chorando ao telefone
e vendo doer a fome nos meninos que têm fome

[...]

Eu ando pelo mundo
e os automóveis correm para que?
as crianças correm para onde?
transito entre dois lados de um lado
eu gosto de opostos
exponho o meu modo, me mostro


Seja eu,
Seja eu,
Deixa que eu seja eu.
E aceita
O que seja seu.